segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Esse é o fim de tudo e é isso que eu vim dizer...
Passei um bom tempo sem escrever nada, mas agora estou atualizando isso aqui.
A vida ficou estável aqui na Romênia. Passei o resto dos meus dias dando workshops de comunicação, motivação e orientação profissional para os estudantes das escolas de Galati (cheguei a ter uma turma de 60 alunos). Foi simplesmente sensacional. Eles adoraram. Comentavam, faziam perguntas, se interessavam e choravam de dar risadas com as minhas piadas e brincadeiras. Talvez eu tenha talento pra essas coisas, sei lá.
A vida ficou extremamente divertida também. Arranjei uma turma fenomenal aqui. Uma garota do Japão que apesar de ser tímida é a que mais fez pontos de toda a galera. Uma garota da Alemanha que dá risada de tudo o que você fala. Um cara da Geórgia muito gente boa que me adotou como um irmão mais velho. Uma Romena que fala português e tem corpo de brasileira.Um turco que vive atrás de mulher mais nunca consegue pegar ninguém e dois portugueses filhos da puta que são tão loucos e animados quanto eu e que viraram meus irmãos aqui.
O alojamento tem aproximadamente 200 pessoas entre estudante e professores. Nunca houve indícios de reclamações ou problemas. Bom, depois de uma semana que eu comecei a andar com os portugueses a mulher que toma conta do alojamento já ameaçou a chamar a polícia duas vezes.
Era violão, bebida e festa a noite inteira. Finalmente conseguimos mostrar o que é uma verdadeira festa.
No ultimo dia que eu fiquei aqui resolvi me despedir em grande estilo. Com um churrasco é lógico. Comemos, bebemos e cantamos a noite inteira. Aqueles filhos da puta de portugueses começaram a cantar a musica “amigos para sempre” em minha homenagem e tudo mais. Eu chorei que nem uma criança. Aí foi só eles perceberem que eu me emocionava ouvindo a música que eles tocaram essa porra mais umas 3 vezes durante a noite só pra me fazer chorar de novo. Os caras realmente virarão meus irmãos.
Na hora de ir pra estação pegar o trem pareceu cena de filme. Tinha uma galera me esperando lá. Da AIESEC e de outros cantos que eu conheci também. Entrei no trem com os filhos da puta cantando “amigos para sempre” e eu chorando como uma criança de novo.
Pois é pessoal, o ciclo se fechou. Apesar de todos os problemas e coisas que aconteceram aqui eu tive uma das mais significantes experiências de toda a minha vida. Antes de eu viajar me disseram a seguinte frase: você nunca volta o mesmo de uma viagem. Agora eu assino em baixo. Isso aqui teve um impacto na minha vida que eu não consigo definir em palavras. Aprendi imensamente sobre mim e sobre o mundo. Sobre a vida, sobre as pessoas, sobre a amizade, sobre Deus, sobre problemas e como resolvê-los, sobre como ganhar a simpatia das pessoas, sobre como dar aulas e até sobre como criar um filho.
E por falar em filho a família do moleque não entrou mais em contato comigo. Mandei um email traduzido em romeno pra eles para ver se conseguíamos restabelecer os contatos mais eles não me responderam. Agora vou entrar com um pedido na AIESEC do Brasil pra tentar reaver os gastos da viagem.
Esse Blog acaba aqui galera. Escrevi mais uma página no livro da minha vida e foi uma página muito importante. Algumas letras ficaram borradas e até um pedaço de papel se rasgou, mas ninguém poderá dizer que a história não está boa.
Senhoras e senhores, amigos e amigas, curiosos e curiosas; o Allan está de volta ao país do samba, carnaval e cerveja gelada. Esse Allan que retorna não é o mesmo Allan que partiu. Ele mudou um pouco. E pra melhor...
Quem quiser conhecer essa Allan 2.0 é só chamar ele pra tomar uma que ele me disse que vai correndo.
Estou com saudades de todos e pra não dizer que eu sou um mentiroso aí vai:
Mãe, já põem o feijão no fogo porque eu vou chegar com fome. Mestre, provavelmente você é o primeiro que eu vou encontrar pra contar as histórias. Mano, é nóis no ano novo bixo. Rafael e Fernando, quando vocês vão estar em são José?. Piuzão, meu primeiro açaí é com você. Renata, quando começa a sua viagem pela Europa?. Ferr é verdade que você passou no trainee da Danone? Fer Wur, você vai ser efetivada? Karina como andam as coisas na DOW ? Aninha to doido pra dançar um forró contingo. Marina do cabelo vermelho, como andam as coisas por aí? Arquimedes, Taiada, Ju, Erica, Sam e Raquel já vão comprando as salsichas que vai ter churrasco de apartamento de novo. Guilhermão, que dia você vem pra Sampa. Dani, você vai vir pra são Paulo no Natal? Marina Russo, Tiagão, Mari Oliveira, Fê, Nina e toda a cambada da AIESEC_BRASIL, já preparem um dia pra eu contar as aventuras e entrar com o pedido na XQB. Yumi, e aí como foi a postulação? Já reserva um dia pra eu te devolver as coisas e pra gente tomar uma. Rafinha e Cicinho eu gostaria de tomar uma com vocês, já avisem pras suas respectivas namoradas liberarem viu. PH, reserva uma cama pra mim no seu AP porque eu quero dar um pulo no Rio pra pegar um baile funk contigo. Boris, Sabagão, Leo, Dani, Carol e Moraes, boa sorte aí e eu espero vocês aqui com a cerveja gelada. Mirian, quando você regressa do Chile? Martielo, já vai vendo a data das próximas festas que eu quero conhecer Uberaba. Peri seu índio maluco, dia 10 é teu aniversário, já arranja um lugar pra eu dormir em SP porque eu não vou perder sua festa. Gará como anda a Natura Brother? Desiree, agora que o teu salário já está na casa dos 5 dígitos tem como você me emprestar uma grana?( essa viagem me quebrou). Lariquinha, promessa é promessa e vc sabe do que eu to falando. RO, Mixa, Norocas e JeJé esse ano novo vai ser do caralho. Mari e Paulão, como andam as coisas da formatura? Conseguiram fazer minha inscrição? Pri vai casar mesmo?
E é isso aí galera. Espero não ter esquecido de ninguém. Vocês são importantes pra caralho na minha vida.
La Revedere, acuma gata.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Depois da tempestade a bonança
Minha febre passou, estou com um pouco de dor de garganta mas nada comparado a ontem.(juro que nunca na minha vida tinha passado por um febre daquelas, meu corpo tremia, nunca tinha visto isso antes)
Arranjaram um local pra eu ficar no dormitório da universidade, estou dividindo o quarto com um trainee que chegou ontem e advinha de onde ele é. Da Georgia. Eu nem sabia que esse país existia. O cara parece ser gente boa e já conquistou minha simpatia falando que estava doido pra tomar uma cerveja.
Conseguiram também alimentação ( almoço e janta) mas o café da manhã ainda é por minha conta.
Disseram que eu e esse cara da Georgia vamos fazer um projeto envolvendo alunos de algumas escolas, mas não nos passaram muitos mais detalhes.
Bom, agora eu não pago pela alimentação e nem pela moradia e tenho alguma coisa pra fazer aqui até eu pegar meu avião.
Ah, a família do moleque entrou em contato com a AIESEC e disseram que querem conversar comigo novamente, parece que eles querem voltar atrás.
Vou mandar um email pra eles mas pra lá eu não volto não.
Acho que por enquanto é isso.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Deixando as coisas mais claras.
Quando eu falo que os caras da AIESEC são imcompetentes e estão fazendo pouco caso de mim eu estou me referindo ao escritório aqui de GALATI, na ROMÊNIA. O pessoal da AIESEC da USP está fazendo o diabo pra botar os caras daqui no pau e estão em contato comigo o tempo todo e eu sou extremamente grato a eles. É nessas horas que você ve quem está do seu lado.
Abraços
Só pra priorar...
E advinhem o que o pessoal da AIESEC me aprontou. Vocês acreditam que com 70 membros eles não acharam 1; meu Deus; uma alma viva pra me abrigar? Não é possível que em 70 pessoas não haja uma que possa me abrigar ou pelo menos me dar uma carona pra transportar as malas. Percorri a cidade ardendo em febre e gastando com taxi e advinhem onde eu estou? Em um hotel. Pagando do meu próprio bolso. Tinha 730 leis pra ficar até 1° de dezembro, com o Hotel e o taxi já foram 200. Amanhã eu saio do hotel ás 11:00 e pra onde eu vou? Só Deus sabe.
Eu estou a ponto de acertar a cara de alguém por aqui. Não sei mais o que fazer. Os caras falam que vão resolver mas olha aí. To aqui gastando o dinheiro que não tenho.
Vou acabar pegando o dinheiro que sobrou, mudar a data da passagem e sumir desse país.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
PRONTO!! ELE CONSEGUIU!!!
A semana tinha transcorrido pacificamente e eu achei que minha sorte estava mudando, que nada, o destino so estava aguardando pra dar a paulada no lugar no certo.
Ha umas duas semanas atras, enquanto eu calmamente lia um livro em meu quarto, o danado do moleque subiu no sotao do internato e chutou uma parede que estava em construcao. A parede quebrou, e pra variar, ele jogou a culpa em um dos colegas. Achei que a historia ia acabar por ai, mas engano meu. O dono do colegio descobriu que foi o moleque que quebrou a parede e por esse motivo e outros pequenos erros que ja vinham se acumulando no curriculo dele o colegio resouveu chutar ele pra fora.
Isso mesmo, ele foi expulso do colegio!!!
Os pais foram nos buscar de carro e eu tive que ouvir duas horas seguidas o pai dando esporro nele e a mae chorando. Assim que chegamos em casa eu comecei a arrumar minhas coisas porque eu tinha uma viajem marcada para Bran [onde fica o castelo do dracula]. O moleque ficou a semana inteira falando que ia viajar comigo e tudo mais, mas diante dessa situacao eu nao tinha outra escolha. Falei pra ele que eu ia ir sozinho, porque se ele fosse eu teria que ficar tomando conta dele e nao teria privacidade com o pessoal da AIESEC. Logico, ele ficou muito puto e nao falou mais comigo.
Voltando da viagem o pai me manda uma mensagem no celular falando que eu podia ficar em Galati, que eu nao tinha mais servico com a familia dele. Ou seja, FUI DESPEDIDO!!!
Exatamente, DESPEDIDO!!!
Hoje eu fui na casa dele [ e tive que ir sozinho de onibus porque os caras da AIESEC nao tiveram a capacidade de arranjar alguem com carro pra me dar uma carona pra pegar as minhas malas] e peguei todas as minhas coisas. Deixei todas as coisas que eles tinham comprado pra mim, carteira, relogio, casacos, sapatos e ate as cuecas. Nao queria levar nada que nao fosse das minhas proprias posses. O moleque ficou la, me olhando com aquela cara de bunda.
Hoje eu estou na casa de um dos membros da AIESEC e amanha nao sei pra onde vou. Ainda bem que eu sou mais esperto do que eu pensava, guardei uma boa parte do dinheiro que eles me deram, entao creio que consigo me manter aqui ate 1 de dezembro[ dia em que pego o abencoado aviao de volta pro Brasil].
Essa viagem realmente esta sendo interessante. Simplesmente tudo o que poderia dar errado deu: perdi meu passaporte, perdi minha bagagem, o trabalho nao era nada daquilo que me disseram, fizeram pouco caso de mim na AIESEC e agora a pouco, quando fui descer do onibus torci minha perna e nao estou conseguindo andar direito.
Eu paro e me pergunto: porque diabos tudo isso esta acontecendo comigo? Porra, bem que o universo podia me dar uma forcinha de vez em quando ne. Mas apesar de toda essa chuva de merda eu ainda consigo sorrir, cantar, contar piada e fazer amigos por todos os lugares que passo, desde a tia da recepcao ate com os professores e doutores do colegio.
Acho que e so. Estou exausto e vou dormir cedo hoje porque amanha eu nem sei pra onde eu vou.
bye
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Winds of Change
A galera do internato descobriu uma porção de mentiras que ele contou e agora estão dando um gelo nele. Resumindo, ele perdeu os poucos "amigos" que tinha. O pior que eu estou notando que ele está com ciúmes porque o pessoal vive me chamando pra fazer as coisas aqui mas ninguém mais fala com ele.
Estou reportando todas as atividades dele pros pais diariamente através de email( inclusive a quantidade de cigarros que ele fuma).
Vou pegar o avião de volta no dia 1° de dezembro, então vou estar aí dia 2 e estou analisando algumas possiblidades:
1°- esse trabalho de babá já cansou. Fico livre nos finais de semana, ganho bem, mas já deu. Não to aguentando mais ouvir a voz do moleque. Aprendi bastante mas não creio que continuar nisso aqui vai me acrescentar mais alguma coisa. Vou fazer o serviço direitinho até eu voltar e depois já era.Então essa decisão já está tomada.
2° pelas regras da AIESEC quando a descrição do trabalho é totalmente diferente da do contrato o escritório que me chamou é obrigado a achar outra atividade pra mim.
Entrei em contato com a AIESEC da USP( essa sim é eficiente !!!) e eles já estão se mechendo pra fazer as regras valerem.
3° Lógico, se eu não for mais trabalhar de babá a família não vai me pagar a passagem de volta ( e eu duvido que a AIESEC daqui vá pagar, eles deveriam, pois afinal eu tenho que voltar por culpa deles). Eu andei economizando uma grana aqui porque em agosto eu estava planejando fazer um mochilão. Então se eu usar esse dinheiro pra bancar a passagem de ida e volta, creio que não vou precisar incomodar minha mãe com assuntos financeiros novamente.
4° Estou entrando em contato com os professores e com os amigos que eu fiz na escola pra ver se eles conseguem arrumar algum tipo de trabalho aqui que pague o sufiente pra eu ter uma vida de estudante (casa, comida, festa e cerveja) assim não fico na total dependência do pessoal da AIESEC da Romênia. O bom é que eu sou multiuso, posso trabalhar com quase qualquer coisa, desde tocar violão nos bares até ser engenheiro químico.
Resumindo, se eu conseguir outro emprego eu volto pra Romênia. Se eu não conseguir o país do samba terá seu humilde filho de volta em seus braços. (e já vou me preparando pro choque térmico, aí deve estar um puta calor e aqui ta nevando pra caralho)
Abração Galera
domingo, 1 de novembro de 2009
Fechando o Cerco
Saca só o que aconteceu. Estava eu aqui puto por causa do problema com o meu visto quando a Mãe e o Pai do muleque botaram nóis dois ( eu e o pentelho) numa sala e começaram a velha conversa familiar de novo. A mãe do moleque falou que eu não estava cumprindo com as minhas obrigações e que eu deveria ser mais rígido com o cara e se ele não me respeita-se eu deveria ligar pra eles.
Por causa da bagunça no internato os pais dele resolveram alugar um quarto pra nóis dois em um hotel bem ao lado da escola e agora eu tenho novas tarefas.
Dá uma olhada na lista e vejam se isso aqui não é uma piada:
1- Acordar o cara e ir com ele até a escola.
2- Não deixar ele matar aula.
3- Não deixar ele fumar.
4- Ocupar o tempo dele com atividades educativas
5- Conversar com os professores e saber o que eles pensam do moleque.
6- Ver se ele está se alimentando bem.
7- Ver se ele está bem agasalhado.
Só pode ser piada isso aqui viu. To só esperando o Ivo Olanda sair de dentro de um armário qualquer.
Até agora eu tentei ser um bom amigo, dar bons conselhos, conversar bastante e essas coisas. Até agora eu tava tentando fazer ele perceber por si mesmo as coisas erradas que ele faz. Mas os pais querem que eu "realmente" seja uma babá. Em todo sentido literal da palavra. Eu tenho que obrigá-lo a fazer as coisas e se ele fizer coisa errada eu tenho que "dedá-lo" pros pais. Incrível né?
Essa vai ser a primeira semana que eu vou seguir a risca todas as ordens dos pais dele. Eu já falei pro moleque que em três dias ele vai me odiar do fundo da própria alma. Os pais estão me pagando pra controlá-lo e eu vou acabar tornando a vida dele um infeno. Ele até já me deu um apelido carinhoso : "Traidor", hahahaha.
Até agora eu o tratava como um irmão, mas apartir de hoje vou tratá-lo com um trabalho. Pra falar a verdade já estou cansando viu... eu só consigo respirar nos finais de semana, que eu fujo pra casa de algum camarada aqui e fico lá até domingo
Tenho mais um mês pra ficar aqui e depois eu volto pro Brasil e já estou pensando em não retornar mais pra Romênia...
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
To voltando
O problema com o visto foi pior do que eu pensanva.
Saca só o que aconteceu: Os idiotas da AIESEC de Galati (meu CL Host) me pediram para eu vir sem o visto que quando eu estive-se aqui seria mais fácil consegui-lo e tudo mais. Para a minha surpresa, quando eu vou com os caras para tirar o visto eu descubro que os imbecis nem sequer tinham lido a porra da lei de imigração. E para o espanto meu, da família que me recebeu e dos idiotas da AIESEC eu NÂO POSSO tirar o visto aqui na Romênia. O visto de longa permanência deve ser tirado antes de sair do Brasil e não há santo que faça ele sair aqui.
Conclusão: nunca confie em seu CL Host. Os caras foram imcompetentes e eu inocente de ter acreditado cegamente neles.
A VP de OGX me falou: desculpe, nós não sabíamos e bla bla bla. Eu ainda estou tentando descobrir um modo de ferrar o CL deles mas ainda não descobri. Se alguém aí souber me avise porque eu tive que trancar a faculdade, larguei meu estágio, não aceitei uma proposta de efetivação na Natura,dei uma puta dor de cabeça pra minha mãe e ainda gastei uma grana que eu não tinha pra poder vir pra cá e por causa da incompetencia desses imbecis eu tenho que ir embora.
Apesar de o destino ter me dado essa rasteira ele também me estendeu a mão pra levantar. A família do moleque falou que vai bancar todas as despesas de viagem e de visto.
Então, senhoras e senhores, eu vol voltar pro Brasil, esperar o visto chegar e retornar pra Romênia a tempo de pegar o inverno dos caras. Enquanto isso eu revejo os amigos e mato saudade da família.
Assim que eu souber a data eu aviso.
Até logo
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Aprendendo a Viver
Antes que alguém diga alguma coisa esse título aí não é de alto ajuda não. Plagiei a obra mais famosa do filósofo romano Sêneca. Pra quem não sabe esse cara foi o tutor de Nero, o camarada que matou a própria mãe, ordenou que Sêneca suicida-se e viu Roma arder em chamas enquanto ele calmamente tocava sua arpa na segurança de seu palácio. Sêneca escreveu muita coisa interessante nesse livro e quem tiver a curiosidade, por favor, leia essa obra, garanto que não será perda de tempo. Citei esse livro porque minha estadia aqui me lembrou uma de suas frases: “ Eu não pertenço a um único lugar, o mundo inteiro é a minha pátria.” Pra falar a verdade eu ainda não sei se concordo ou discordo do pensamento do filósofo. Passei por situações interessantes aqui que até agora não desequilibraram a balança das decisões.
Estar em um outro país é com certeza uma experiência que todo ser humano deveria experimentar pelo menos uma vez na vida. Você experimenta duas sensações ao mesmo tempo: a de ser um completo estranho (pois você está imerso em uma outra cultura, com outros costumes e com uma língua diferente) e de fazer parte de uma coisa só ( pois todos são seres humanos, com os mesmos problemas, as mesmas angústias e com os mesmos sonhos).
Cada dia eu descubro mais sobre eu mesmo. Aprendi que não preciso de tanto dinheiro pra ser feliz, pois sou um cara de gostos simples ( gosto de leitura, música e artes marciais). Carros importados, restaurantes finos, roupas da moda, casas imponentes nada disso me traz a tranqüilidade que eu vivo buscando ( e só consegui perceber isso porque aqui eu tenho tudo aquilo que eu sempre “sonhei”).
Percebi que fazer amigos e saber cultivá-los é a melhor habilidade que alguém pode aprender . Venho de um país muito diferente da Romênia e mesmo assim estou conseguindo fazer amigos de verdade aqui ( pra vocês terem uma idéia teve um dia que eu não fui pro colégio e uma garota e um cara me ligaram pra perguntar se estava tudo bem e quando eu iria voltar e que eles estavam com saudades).
Aprendi que o melhor jeito de valorizar as coisas que você tem é perdendo tudo aquilo que você conseguiu. Essa semana quando eu voltei do colégio pra casa do moleque o pai dele me falou que eu estava com um problema com o meu passaporte: ele me disse que era impossível transformar um visto de turista em um visto de trabalho e que eu teria que deixar o país em três meses. Como eu estou ficando mais esperto por aqui ( Gará, Erica, Arquimedes e Taiada, vocês ficariam orgulhosos de me ver) eu entrei pessoalmente no site da embaixada para verificar a situação ( porque antes de deixar o país eu fui orientado pelo próprio pessoal da AIESEC da Romênia a entrar como turista e tirar o visto depois). As regras não estavam muito claras e lá fui eu pessoalmente no consulado pra tirar a situação a limpo ( o pessoal da AIESEC foi junto é claro). Os caras disseram que não há nenhum problema e amanhã eu vou levar todos os documentos no consulado. Bom, o que eu quero dizer com isso é que por um dia eu acreditei que eu teria que voltar bem mais cedo do que eu esperava, e só então eu fui perceber o quanto eu estou gostando de estar aqui e o quanto de tempo eu estou desperdiçando em atividades sem valor, isso abriu meus olhos de uma forma sem igual. E pra surpresa de vocês Sêneca já tinho dito tudo isso há mais de 2000 anos atrás: “A cada dia que vivemos é um passo a mais para a nossa morte”. Só quando sabemos a brevidade das coisas é que somos capazes de aproveitá-las da melhor maneira possível.
Apesar de estar cercado de pessoas eu ás vezes me sinto sozinho aqui. Sinto falta dos amigos em volta de uma mesa tomando uma cerveja, de tomar um açaí com o pessoal de São José, de conversar com minha mãe enquanto tomo café e ela vê novela, das noites de esquenta e de baladas que sempre trazem as mais loucas histórias e é claro: do velho e bom churrasco brasileiro. Mas uma coisa compensa a outra. Abração galera.
Diversão na terra do Drácula

Uma das vantegens de se trabalhar em uma escola é que você conhece vários lugares nas excursões escolares e nas bagunças com a molecada.
Fui em uma festa de formatura, escalei uma montanha, vi uma barragem, visitei um castelo, vi um jogo internacional de futebol, estive em dois mosteiros e pela primeira vez na minha vida eu presenciei a famosa "neve". É um bom começo pra quem está aqui a um mês e meio. Vamo que vamo!!
sábado, 10 de outubro de 2009
Um enredo bem mais que interessante
Essa semana o moleque aprontou mais uma. Vamos lá. De vez em quando a dona do colégio dorme no internato e quando ela está la todo mundo tem que dormir ás 10:00 ( inclusive eu). Bom, estávamos no quarto e eu estava tentando ver um filme no computador e a molecada estava tocando o puteiro como sempre. Pra falar a verdade eu já me acostumei, até me sinto desconfortável quando está tudo em silêncio. Vou fazer um parênteses aqui, Arquimides e Taiada, vocês moraram comigo cerca de dois anos e meio, vocês, mais do que ninguém, sabem que eu sou um cara desorganizado, bagunceiro e barulhento. Imaginem um local onde eu sou o cara mais tranqüilo, o mais silencioso e o mais organizado. Difícil de acreditar né? Pois é. Este é o internato. Bom, continuando a história. Estavamos lá no quarto quando derrepente a dona do colégio ( Aurora) me entra de roupão, dá um tapa na cara do meu moleque, empurra um outro na cama, dá um esporro fenomenal, apaga a luz e vai embora. Fantástico né. Eu quase morri de dar risada. Me lembrou a cena de um filme. Pra quem já viu os 300 de Esparta, tem uma cena em que o Leonidas mata um monte de persas em câmera lenta. Foi igual no dormitório. Eu até criei um jargão que as crianças adoram: “ This is madness!. No! This is Aurora”.
Acontece que quando o Pai do moleque chegou, na sexta feira, pra levar a gente pra casa a mulher contou tudo pra ele. O moleque tomou o maior esporro e se trancou no quarto o resto do dia. Foi então que o Pai e a Mãe dele me chamaram pra conversar ( pelo tradutor on line). Eles me perguntaram qual era o comportamento do cara na escola e eu fui sincero e profissional, disse toda a verdade: ele briga com os colegas, não gosta de estudar, é rebelde com os professores e não sabe controlar o próprio dinheiro (é claro que omiti o fato de que ele fuma pra caralho, esse é o menor dos males). Então eles me perguntaram se o problema era a escola ou os amigos e eu disse que o problema era o próprio moleque. Então, pra minha surpresa, eles me fizeram a seguinte pergunta: “Como fazer pra melhor o comportamento dele?”. Olha essa cena! Um casal de 40 anos perguntando pra MIM o que eles devem fazer pra corrigir o moleque! PUTA QUE PARIU!! Como é que eu vou saber? Eu estou dando conselhos de como criar um filho!!! Dá pra acreditar? É claro que não dá pra acreditar!! Mas que porra de trabalho é esse afinal ? O casal está completamente perdido. Eles não sabem mais o que fazer e depositaram toda a confiança em mim. Em MIM. Mas o que é que eu estou fazendo aqui afinal? Falei pros pais que eu vou conversar com ele e tudo mais, mas eu só posso dar conselhos e impedir que ele machuque alguém no internato, não posso mudar o comportamento dele.
Bom, a história não acaba por aí não. Acontece que nessa sexta feira os tios deles vieram fazer uma visita. A prima dele veio também. Eles tem basicamente a mesma idade mas a menina é extremamente madura e consciente das coisas. Ela estuda canto em um conservatório e ficamos conversando a noite inteira. E o Sherlock Biffi aqui achou mais algumas pistas desse mistério. Ela me disse que os pais sempre quiseram arranjar alguém pra cuidar do moleque ( eles trabalham 14 horas por dia e nunca tiveram muito tempo pra cuidar dele. E adivinhe só, eles tentaram compensar a ausência dando tudo o que o moleque sempre quis. Aprendam essa lição galera, se vocês querem estragar alguém nunca digam NÃO a essa pessoa.). Descobri que o moleque foi expulso do ultimo colégio que ele freqüentou porque alguém filmou ele com uma garota no banheiro e colocou na internet; os pais foram processados por pornografia infantil e tiveram que pagar uma grana. Loucura essa história né. Bom, desde então o moleque não tem muitos amigos, os pais tentam cortar todos os tipos de amizade pensando que os amigos vão estragar o menino. E só agora eu me toquei que isso é verdade. O cara não tem um amigo verdadeiro. Eu sou o único e ainda estou sendo pago ( e muito bem diga-se de passagem)pra fazer isso!! Ah e tem mais!! Lembram aquela história que ele tinha uma irmã que morreu de câncer? Pois é. A maior mentira que ele já contou. A prima dele foi criada nessa casa desde criança e ela me confirmou que nunca ouve uma irmã nessa história. O pior é que todos os amigos dele no colégio confirmam a mesma história. Ou seja, ele espalhou pra todo mundo que tinha uma irmã e que ela morreu aos 21 anos vítima de câncer!! Mas porque diabos ele inventou isso? Mais um mistério que eu vou tentar desvendar. Até agora eu estou fazendo o jogo dele, finjo que acredito em tudo o que ele diz e tudo mais. Estou dando corda pra ele se enforcar sozinho, vamos ver até onde ele vai.
Pro pessoal da AIESEC que está doido comigo porque a descrição de professor de inglês era fachada não precisam ficar preocupados. Eu conversei com uma das professoras e ela vai me deixar das aulas de inglês, os alunos tem 4 e 5 anos de idade e eles me amam, fazer o que? Eu acho que tenho jeito com crianças ( e nem venham com aquela piadinha: “ è claro que você tem jeito com crianças, você é uma delas”). E além do mais eu estou aprendendo toda a estrutura curricular de um colégio de primeira ( a escola recebeu o melhor conceito do ministério da educação da Romênia), estou aprendendo como dar aulas, como ganhar a confiança das pessoas, como agregar valor em um negócio educacional, como fazer propaganda do seu serviço, como atrair mais clientes e até como criar um filho. Resumindo, essa EX saiu melhor que a encomenda: além de estar realizando a job description eu ainda estou aprendendo em como ajudar alguém com sérios problemas comportamentais. Bom, isso sem falar que convivo com lindas mulheres, uso jaquetas de couro e roupas finas, como do bom e do melhor e de quebra ainda dirijo um conversível nos finais de semana. Portanto sosseguem o facho aí que se eu precisar de ajuda eu grito.
La revedere
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Decisões....
Vejam só vocês qual é o meu trabalho, as funções são simples até:
1- Não deixar o moleque fumar
2- Não deixar o moleque beber
3- Não deixar o moleque brigar
4- Não deixar que ele ande com más companhias
5- Ajudar ele com o dever de casa
6- Ocupar o tempo livre dele com atividades extracurriculares ( música, esportes e essas coisas)
Bom, eu andei pensando bastante sobre isso e cheguei a algumas conclusões, vamos lá:
1- Não posso impedir ele de fumar, ele mesmo me disse que é um idiota, que cigarro não presta e tudo mais. Ele tem plena consciência dos malefícios do cigarro. E além do mais o pai dele fuma também (olha que belo exemplo). Se eu tentasse impedi-lo ele iria fumar escondido do mesmo jeito , ou seja, a tarefa número 1 não pode ser realizada.
2- Essa não é muito problema, o pai do garoto deixa ele beber em casa, ele só não pode beber na escola e pra falar verdade ele não gosta muito de beber então eu não preciso me preocupar com essa questão.
3- Essa é uma das únicas que eu consigo realizar com sucesso, já separei umas três ou quatro brigas que ele estava no meio ( isso só com ele, se for incluir os outros garotos eu já perdi a conta). Ele me respeita e eu exerço uma certa autoridade sobre ele, maior que a do pai pra falar a verdade; quando eu entro no meio da briga ele sabe que é pra parar (mesmo porque se ele não parar, eu quebro todo mundo nessa porra!)
4- Essa é a mais engraçada, o pai dele não precisa se preocupar com as “más companhias”. Os amigos deles são super gente fina e tudo mais. É o próprio garoto que tem problemas.
5- Essa eu realizaria com o maior prazer, mas eu nunca vi o safado estudando. Eu já disse isso mais de um milhão de vezes: “Se você quiser ajuda eu te ajudo”. Mas eu não posso obrigá-lo a sentar a bunda na cadeira e estudar.
6- Esta eu tenho realizado com sucesso, outro dia a gente saiu pra caminhar e pra variar eu dei uma de retardado. Entramos no meio de uma floresta, encontramos um túnel abandonado, saímos num lugar no meio do nada e encontramos um rio muito louco que tem uma ponte e da pra pular lá de cima.
Conclusão: na verdade eu não tenho trabalho. Todas as minhas supostas atividades dependem da boa vontade do moleque ( ou da minha força, mas eu não quero apelar pra esse método). Tipo, é muito legal ficar aqui, eu gosto do pessoal, gosto do moleque, bagunço a noite inteira e tudo mais. Em outras palavras, eu fui contratado pra corrigir um erro que foi cometido pelos pais dele. Os pais perderam uma filha de 21 anos (vítima de câncer ) e protegeram o moleque de mais. Os pais não tem autoridade sobre ele e ele não sabe ouvir a palavra “não”.
Há dois grandes problemas nisso tudo. O primeiro é que eu fui enganado, saí do meu país pra dar aula de inglês e não pra ser psicólogo. Segundo, os pais deles estão sendo enganados, eles simplesmente me deram um trabalho que eu não posso realizar. Não é justo com os pais eu permanecer aqui, eles simplesmente estão jogando dinheiro fora. Minha influência sobre o garoto é positiva, notei algumas melhoras nele, mas sinceramente, não sei se isso pode ser considerado um trabalho, estou sendo pago ( e bem pago) pra ser um irmão mais velho. Olha, eu faria isso de graça pelo garoto, o que eu quero é um trabalho de verdade, afinal eu vim aqui pra isso.
Pelo regulamento da AIESEC, quando as atividades a serem realizadas são muito diferentes das que estão no contrato, a organização daqui tem a responsabilidade de achar um outro emprego pra mim. Nesse final de semana vou ter uma conversa séria com a garota da organização que é responsável por mim aqui, vamos ver no que isso vai dar.
Se não pode com eles...ensine-os como é que se faz
Há um ditado brasileiro do qual eu gosto muito: “Ta inferno abrace o capeta”, mas aqui eu praticamente peguei o tinhoso no colo. Galera, sinceramente, eu cansei de fingir que sou um cara regrado, agüentei duas semanas e isso já foi bastante difícil. Simplesmente quebrei minha máscara e entrei de voadora com os dois pés nesse lugar. Quebrei todas as regras do internato, fiquei acordado até ás 3 da manhã fazendo festa com a molecada, brinquei de luta livre com todos os meninos, rolei na grama, falei palavrão, ou seja, fui simplesmente eu mesmo. Teve um dia aqui que eu amarrei uma toalha de mesa nas costas e saí pelos corredores gritando que eu era o superman, os moleques cascaram de dar risada (espera só até eles conhecerem o homem aranha). Se antes eles tinham simpatia por mim agora eles me amam. Ganhei até um apelido de uma das garotas, “Allan, the joy of the kids”, é só eu aparecer e a gritaria começa, eles querem brincar de luta livre, querem que eu ensine palavrões em português, querem me mostrar alguma coisa na cidade, querem que eu ensine algum golpe de judô, querem ouvir música brasileira no violão e tudo mais. Agora é possível ouvir gritos pelo internato como : “This is Sparta”, “Never surrender”, “ Puta que Pariu” e “ Para com essa porra moleque do caralho”.
O pessoal mais velho disse que eles tem sorte de ter um cara como eu aqui (me senti lisonjeado), eles me disseram que nunca tiveram alguém pra conversar sobre filosofia, literatura e religião; passei madrugada a dentro discutindo esse tipo de coisas com alguns deles e foi muito gratificante. Aprendi muita coisa sobre eles e sobre a Romênia também.
O pessoal aqui parece ter dupla personalidade, uma delas é totalmente retardada, só fazem merda e falam um monte de besteiras e a outra é extremamente séria e absurdamente inteligente, eu realmente gosto de conversar com eles e a conversa flui naturalmente. Lógico, eu perdi um pouco da minha sanidade mental aqui e agora eu também tenho uma outra personalidade ( que por sinal eles cascam de dar risada quando eu começo a interpretá-la). Eu finjo ser um serial killer que quer matar os garotos e enterrá-los no jardim, a vítima é escolhida pelas cartas de baralho, eu sorteio uma carta aleatória que corresponde a um dos moleques, então eu pego o objeto mais próximo e saio pra persegui-lo pelos corredores, ( a ultima vez foi com uma chapinha de uma das meninas).
sábado, 26 de setembro de 2009
Pacto com o Diabo
Seguinte, eu cheguei a uma conclusão: pra ensinar o muleque algumas lições eu preciso de tempo; é impossível ensinar alguém que foi mal acostumado uma vida inteira em apenas algumas semanas, então o recurso básico que eu preciso é tempo; e adivinhem só, descobri como ganhá-lo. Eu fiz um trato com o muleque, criei um horário fictício de estudo, dever de casa, esportes e essas coisas e disse pra ele mostrar pro Pai que ele iria ficar feliz. O muleque entendeu o recado, devo admitir, ele é um bom ator: disse pros pais que eu ajudo ele a fazer o dever de casa, que não o deixo fumar e nem ir pra cidade e que eu ocupo todo o tempo livre dele com música e esportes. Resultado, agora eu tenho a confiança das duas partes do jogo. O muleque confia em mim porque sou gente boa e não o obrigo a fazer nada, os pais deles confiam em mim porque eles pensam que eu estou controlando o muleque. Agora não temo mais ser demitido do dia pra noite. Tenho o tempo que de preciso. Preciso agora traçar uma estratégia de trabalho, uma espécie de plano de guerra ou algo assim. As lições devem vir aos poucos, em dose homeopáticas, vividas no dia a dia. Senhoras e senhores, mãos a obra.
Vivendo no Internato
Esse é o quarto dia em que estou aqui no internato e somando tudo eu devo ter dormido umas 15 horas apenas. Esses caras simplesmente não param!! È o tempo todo gritando, arranjando briga, chingando a mãe do outro, mexendo com as meninas; vocês acreditam que teve um filho da puta aqui que pegou um creme de rosto de uma das meninas, gozou dentro (vocês não leram errado não, é essa palavra mesmo) e depois botou no lugar? E o pior de tudo, ela usou o creme depois. Outro dia eu estava conversando com uma das meninas aqui, Helena ( que por sinal parece ser a única normal nesse lugar, o pessoal de 18 e 19 anos falam inglês muito bem aqui) e o arrombado do muleque teve a proeza de arrancar a porta do quarto; mas que filho da puta né; quando eu estava tendo minha primeira conversa descente ele me entra no quarto com a porta na mão; inacraditável; ainda bem que eu consegui consertar depois.
Teve uma vez que eles me chamaram pra tomar uma cerveja no posto de gasolina do lado do internato ( sim, eles bebem, e quem sou eu pra impedi-los) e já era umas dez da noite, hora que na teoria todos deveriam estar em seus quartos dormindo, e é claro que eu fui, afinal eu tenho que seguir o moleque em todos os lugares e mesmo se eu não fosse e trancasse a porta do lugar ele iria dar um jeito de pular a janela e ir do mesmo jeito; então eu fui. Detalhe, estava escuro e eu estava calmamente andando pela calçada quando derrepente o chão abriu-se sob os meus pés, juro pra vocês, eu simplesmente entrei até a altura do ombros dentro da porra de um buraco imenso no meio da calçada e só consegui sair porque os muleques me ajudaram (detalhe, meu pé não tocou o fundo daquela porra). Bom, tomamos duas cervejas cada um ( que por sinal eram muito boas, Tuborg e Tmishurana) e os imbecis ficaram completamente bêbados, voltamos pro internato e eles tocaram o maior putero e ficaram cuspindo na janela e dando risada que nem uns retardados.
Os muleques são bem legais pra falar a verdade, casco de dar risada com as merdas que eles fazem, mas eles são muito infantis e idiotas em alguns momentos ( como todo adolescente). Bom, acho que é isso por enquanto. Se alguém tiver alguma idéia de como controlar 10 adolescentes cheios de energia, que fumam pra caralho e que ficam bêbados com duas cervejas eu estou aberto a sugestões. Grato e La Revedere.
MIssão Impossível (parte 2)
Cá estou eu novamente pessoal. Nem sei por onde começar... se eu contar ninguém vai acreditar, mas eu não teria porque mentir então vamos lá.
Hoje faz uma semana que estou aqui e muita coisa aconteceu, muita mesmo. Bom, vamos do começo então: Estou morando junto com o moleque em uma espécie de colégio interno. O lugar é bem legal, me sinto em Hoghwarts. Há umas 25 crianças (meninos e meninas) aqui, com a idade variando dos 7 até os 19, dormem juntas, comem juntas e estudam no mesmo colégio. Todos eles ficam aqui a semana inteira e vão pra casa nos finais de semana. O internato oferece café da manhã, almoço e janta e é bem confortável. Quem “cuida” da molecada é uma mulher chamada Vacci, ela tem uns 27 anos e fala inglês muito bem, ela mora conosco no internato e sua função é não deixar esses caras botarem fogo nessa porra; e eu juro pra vocês que eles já tentaram. Essa mulher entra no quarto dela umas 21:00 da noite e se tranca lá dentro, e advinha só: os caras tocam o putero a noite toda.
O internato tem algumas regras básicas: não fumar, não beber álcool, estar aqui até ás 10:00 da noite, não freqüentar os quartos das meninas e não quebrar nada. Mas pelo visto o pessoal quebra cada uma dessas regras pelo menos umas 17 vezes por dias.
A rotina básica é: de manhã e de tarde freqüentar a escola e depois ter tempo livre pra fazer o que quiser. Por enquanto eu estou auxiliando os professores da escola com aulas de inglês e tomando conta dos alunos quando algum professor falta( só pra empedir brigas e não deixar que eles se matem) . As crianças do colégio simplesmente me amam, é só eu botar o pé dentro da escola e elas vem me comprimentar, falar de algum jogo de vídeo game, me ensinar alguns palavrões e perguntar se eu já estive na amazônia. Os professores acham interessante ter alguém estrangeiro pra praticar inglês com as crianças, eles acham uma honra alguém ter vindo do Brasil só pra aprender o método que eles usam aqui (bom, eu meio que inventei uma história falando que eu dava aulas no Brasil e vim pra cá pra aprender um pouco com eles e levar esse conhecimento pro meu país. Os jovens me acham um cara bem liberal, fui com alguns deles em um bar e ensinei os caras a fumar narguile e beber sem ficar idiota ( foi difícil mas eu consegui!!!)
Bom, creio que sou o único cara na história da AIESEC que quase foi demitido na primeira semana. Meu trabalho não é ensinar nessa escola que estou vivendo, isso aqui é só um disfarce. Meu real trabalho é acompanhar o muleque pra onde quer que ele vá. Isso mesmo, eu não posso tirar o olho dele por um segundo. Hoje aconteceu que uns moleques me chamaram pra ir andar de kart (em uma pista que tinha uma vaca no meio e você corria com máscaras de paint Ball ao invés de capacetes), o cara de quem eu estou tomando conta não estava muito afim de ir e ficou no dormitório e eu fui com os outros moleques correr de kart (alias, essa foi a primeira vez que andei de kart em toda muita vida). Acontece que a vaca da mulher, a tal de Vacci, não sei porque, falou isso pro pai dele; o cara ligou puto pra mim: falou que não era pra eu largar o moleque sozinho, que eu tinha traído a confiança dele, que eu não gostava do filho dele, que a esposa dele estava chorando e um monte de coisa. Galera, eu fiquei longe por umas duas horas, porra !! O cara tem quase dezessete anos e eu tenho que ficar grudado nele e não deixar ele fazer merda; olha só que trabalho estranho!!!
O garoto é pior do que eu pensava. Além de fumar pra caralho, ser rebelde e torrar a porra do dinheiro que o pai dele sofre pra ganhar (o pai e a mãe trabalham umas 14 horas por dia) ele ainda arranja problemas com os professores, bate nos garotos menores e humilha aqueles de quem ele não gosta muito. È o típico valentão de colégio, governa pela força e pelo carisma forte e rebelde. Hoje eu tive uma conversa com ele sobre a real razão de eu estar aqui e tudo mais. Eu disse pra ele que eu não iria ficar falando pra ele fazer isso ou não fazer aquilo, estou tentando ser um bom amigo. Ele me respeita e confia em mim, conversamos sobre tudo: esportes, mulheres, sexo e adultos que não te entendem ( essas coisas de adolescentes). Galera que acompanha a porra desse blog, estou sendo sincero com vocês, não sei quanto tempo esse intercâmbio vai durar; eu não posso amarrar o moleque na cama e mais cedo ou mais tarde ele vai fazer alguma merda e o pai dele vai ficar muito puto e vai dizer que a culpa é minha e vai me despedir. Descobri algumas coisas sobre ele que explicam esse comportamento, ele perdeu uma irmã de 21 anos, vítima de câncer (quem me disse isso foi ele próprio, os pais não me disseram nada e não há nenhuma foto da menina pela casa). Ele tem tudo o que precisa e os pais o protegem demais,(até chamaram um retartado do Brasil pra cuidar dele). Bom galera, o trabalho não é nada fácil, eu gosto das crianças daqui, mas imagina ficar 24 horas cercados de gritaria, brigas, piadas sem graças, infantilidade, conversas imbecis, brincadeiras sem graça e tudo mais... mas eu vim aqui pra isso mesmo, vamos ver quanto tempo eu agüento.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Missão Impossível (parte 1)
Cá estou eu novamente tentando atualizar esse tal de blog, por incrível que pareça compartilhar seus pensamentos é muito útil pra poder organizá-los.
Hoje eu descobri qual será uma de minhas funções aqui na Romênia, talvez haja outras, mas ninguém me disse nada até agora ( podem até ter me dito mas eu não entendi nada).
Conheci o filho do casal que me contratou, por motivos óbvios eu vou ocultar o nome do moleque ( ele tem apenas 15 anos).
O cara é boa pinta, campeão estadual de kick boxing, manda bem no street dance, toca uma porção de instrumentos, pratica le parkour e , se for verdade o que ele me disse, ele já pegou metadade das garotas dessa cidade.
Ele me parece bem sociável e rebelde ( como qualquer garoto de 15 anos que encontramos por aí)
Bom, resumindo, esse garoto estuda em um colégio interno, ele só volta pra casa às sextas feiras. Basicamente o que eu tenho que fazer é morar junto com ele e manter ele longe das drogas, do cigarro e do álcool, coisa muito comum por aqui e em qualquer lugar do mundo.
Problema: o muleque é um capeta; fuma, enche a cara, e sabe todos os pontos de drogas legais e ilegais por aqui.
Vejam bem vocês que novela está se formando: eu, Allan Biffi, tenho que servir de bom exemplo pra esse cara. Eu, que encho a cara e subo de homem aranha no telhado, bebo até cair no chão, saio com o PH e com o Moraes e faço uma porção de outras coisas que não valem a pena ser citadas aqui. EU tenho que ser um bom exemplo.
Senhoras e senhores creio que uma otima história este prestes a começar.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Como tudo começou...
Rodoviária São José
Tudo começa na rodoviária de São José dos Campos, estava eu lá esperando meu busão pra ir pra Guarulhos quando fui abordado por um mendigo, até aí sem novidade; mas advinhem só, o cara era gay! Puta que pariu né, só eu mesmo pra ser chavecado por um mendigo gay. Mas beleza, a viagem transcorreu sem problemas.
Guarulhos
Chegando no aeroporto tive que esperar cerca de 4 horas pra pegar a porra do avião, fui tomar um lanche e gastei quase 30 paus naquela porra de lugar, até sem novidades também.
Só pra vocês verem como as coisas são, quando você acha que ta fudido sempre aparece alguém mais fudido que você. Estava eu esperando o avião quando comecei a puxar conversa com um cara sentado ao meu lado. Saca só, o cara tava indo pra Suécia, dar aula de capoeira e não sabia uma palavra em inglês, depois eu achava que era maluco.
Avião
Entrei no avião, arrumei minhas coisas, sentei confortavelmente na poltrona e advinha... percebi que tinha perdido o passaporte. Faltavam 5 minutos pra aquela galinha gigante levantar voo e eu simplesmente tava sem a porra do passaporte. Sái desesperado pelo corredor, aí um senhor alemão viu meu desepero e perguntou se eu tinha perdido o passaporte... ufa... eu tinha deixado ele cair no chão, cabeçudo pra caralho né! A viagem transcorreu sem problemas. Durou cerca de 13 horas até amesterdã e mais umas 3 horas de amsterdã até Bucareste ( capital da Romênia)
Bucareste
Chegando em bucareste fui alegremente pegar minha mala e encontrar a pessoa que deveria estar me esperando no aeroporto. E como eu estava com sorte, não achei nem um nem outro. Minha mala tinha ficado em Amsterdã e não encontrei ninguém me esperando e lógico, eu não sabia falar uma única palavra em romeno. O que você faz numa situação dessas? Lógico, manda todo mundo pra puta que pariu, e foi exatamente o que eu fiz. Foi aí que chegou uma menina e perguntou se eu era brasileiro, ela pediu desculpas por estar atrasada e tudo mais. Ela sabia falar inglês muito bem e foi assim que nos comunicamos. Ela me ensinou como andar na cidade e disse que eu deveria ficar em um hotel aquela noite. Seu nome era bem estranho, Mihela, ela me deixou no hotel e foi embora. Paguei o hotel e subi pro quarto pra tomar um banho.
Foi aí que eu parei e pensei: Estou a mais de 10000 km de casa, não conheço ninguém, não sei falar porra nenhuma de romeno, to usando a mesma cueca a dois dias e pra completar perdi minha mala. O que você faz em uma situação dessas? Exatamente, cai na gargalhada e sai pra tomar uma cerveja, porque não há mais nada que você consiga fazer.
Fui num mercadinho perto do hotel e comprei pão, salame e cerveja, ia ser minha janta e advinha que cerveja eu achei na vitrine? Skol, exatamente, a nossa querida Skol, um gosto totalmente diferente, mas o nome era o mesmo. Sentei na calçada na porta do hotel e comi pão que nem um mendigo. Terminada minha refeição eu voltei pro hotel e tentei ligar pro aeroporto pra ver se minha mala tinha chegado. Enquanto eu conversa com a balconista uma garota muito atraente ( loira e olhos azuis) chegou do meu lado e pediu uma cerveja, detalhe ela falava inglês. Eu como todo bom membro do eixo já comecei a puxar papo, ela estava acompanhada com mais um amigo e mais uma menina. Nós quatro conversamos a noite inteira e eles me pagaram bebidas e cigarro. AH detalhe, quando fomos comprar cigarros era umas 11:00 da noite, bucareste é meio parecido com são paulo em termos de violência mas os ladrões não tem armas, então eu andava tranquilamente na rua, quando alguém vinha conversar em inglês eu parava e trocava idéia numa boa. Os alemães acharam que eu era algum tipo de bad boy ou algo assim, não temia as ruas e coisa e tal, coitados não conhecem são paulo.
Fui dormir cerca de 12:00 e acordei ás 4:00 da manhã, então descobri o que afinal era o tal do jetlag. Dei um passeio nas ruas e liguei pra minha mãe pra dizer que tudo estava bem, lógico que omiti o fato do passaporte e das malas.
O dia seguinte foi tranquilo, recuperei as malas no aeroporto e peguei um trem até Galati, onde tinha um escritório da AIESEC.
Galati
A viagem durou cerca de 4 horas, passamos por diversos campos e construções destruídas remanescentes da 2° guerra mundial. A romênia ficou do lado da alemanha e meio que tomou no cú por causa disso, em alguns lugares é possível ver tanques abandonados.
Cheguei em Galati e fui muito bem recebido pelo pessoal da AIESEC. Me levaram em um bar chamado Biffi's e foi aí que eu comecei a encher a cara. Depois fomos pra uma casa de jogos, e eu ganhei de um turco no pinbolinho, depois perdi pra ele na sinuca ( se o Pier e o Manso estivessem aqui eles iam ter uma lição). Continuei bebendo é claro. Depois eu fui dormir na casa de uns camaradas aqui da AIESEC, eles me perguntaram se eu gostava de vinho, e eu respondi que sim é claro e continuei bebendo até escrever aquele email maluco e cair no sono.
Tecuci
Assim que acordei me botaram em uma van e eu fui pra Tecuci, cidade na qual eu iria trabalhar.
A viagem durou cerca de uma hora e a quantidade de mulheres bem digamos... apessoadas que entrou e saiu durante a viagem foi impressionante (Rafinha, você seria preso com certeza). Quando cheguei em Tecuci o cara que me contratou foi me receber, seu nome é Pelin, ele é dono de 4 lojas que vendem praticamente tudo, celular, note book, brinquedos, livros, material escolar, conserta computador, tira xerox, faz carimbos, vende refrigerante, parece um wal mart em forma de bazar. Eu estou morando na casa dele, tem piscina, sala de musica, sala de jogos, aparelho de ginástica, internet wireless, tv a cabo.To com um quarto só meu também. Ele disse que tem um conversível na garagem pra eu poder passear por aqui e que ele vai me ensinar a dirigir. Quem cuida da casa é a sogra dele, uma velhinha muito simpática que cozinha muito bem e que conversa comigo o dia inteiro. Detalhe ela não fala inglês e eu não falo romeno, não me pergunte como mas a gente consegue se entender.
Esse Tal de Pelin não fala inglês muito bem, ele se comunica através de gestos e onomatopéias, uma comédia. Usamos um tradutor on line também, que por sinal é uma bosta mas quebra um galhão.
Sinceramente ainda não descobri direito onde vou trabalhar, pelo o que eu entendi esse cara vai construir uma escola particular aqui, mas ela só fica pronta em novembro. Enquanto isso não sei o que vou fazer, por enquanto eu acordo, como, faço academia, passeio pela cidade e a noite fico vendo o campeonato europeu e tomando cerveja com o cara.
Bom por enquanto é só, vou tentar atualizar isso aqui constantemente
