sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Se não pode com eles...ensine-os como é que se faz





Há um ditado brasileiro do qual eu gosto muito: “Ta inferno abrace o capeta”, mas aqui eu praticamente peguei o tinhoso no colo. Galera, sinceramente, eu cansei de fingir que sou um cara regrado, agüentei duas semanas e isso já foi bastante difícil. Simplesmente quebrei minha máscara e entrei de voadora com os dois pés nesse lugar. Quebrei todas as regras do internato, fiquei acordado até ás 3 da manhã fazendo festa com a molecada, brinquei de luta livre com todos os meninos, rolei na grama, falei palavrão, ou seja, fui simplesmente eu mesmo. Teve um dia aqui que eu amarrei uma toalha de mesa nas costas e saí pelos corredores gritando que eu era o superman, os moleques cascaram de dar risada (espera só até eles conhecerem o homem aranha). Se antes eles tinham simpatia por mim agora eles me amam. Ganhei até um apelido de uma das garotas, “Allan, the joy of the kids”, é só eu aparecer e a gritaria começa, eles querem brincar de luta livre, querem que eu ensine palavrões em português, querem me mostrar alguma coisa na cidade, querem que eu ensine algum golpe de judô, querem ouvir música brasileira no violão e tudo mais. Agora é possível ouvir gritos pelo internato como : “This is Sparta”, “Never surrender”, “ Puta que Pariu” e “ Para com essa porra moleque do caralho”.
O pessoal mais velho disse que eles tem sorte de ter um cara como eu aqui (me senti lisonjeado), eles me disseram que nunca tiveram alguém pra conversar sobre filosofia, literatura e religião; passei madrugada a dentro discutindo esse tipo de coisas com alguns deles e foi muito gratificante. Aprendi muita coisa sobre eles e sobre a Romênia também.
O pessoal aqui parece ter dupla personalidade, uma delas é totalmente retardada, só fazem merda e falam um monte de besteiras e a outra é extremamente séria e absurdamente inteligente, eu realmente gosto de conversar com eles e a conversa flui naturalmente. Lógico, eu perdi um pouco da minha sanidade mental aqui e agora eu também tenho uma outra personalidade ( que por sinal eles cascam de dar risada quando eu começo a interpretá-la). Eu finjo ser um serial killer que quer matar os garotos e enterrá-los no jardim, a vítima é escolhida pelas cartas de baralho, eu sorteio uma carta aleatória que corresponde a um dos moleques, então eu pego o objeto mais próximo e saio pra persegui-lo pelos corredores, ( a ultima vez foi com uma chapinha de uma das meninas).

Um comentário: