sábado, 26 de setembro de 2009

Pacto com o Diabo

Bom, continuando a saga.
Seguinte, eu cheguei a uma conclusão: pra ensinar o muleque algumas lições eu preciso de tempo; é impossível ensinar alguém que foi mal acostumado uma vida inteira em apenas algumas semanas, então o recurso básico que eu preciso é tempo; e adivinhem só, descobri como ganhá-lo. Eu fiz um trato com o muleque, criei um horário fictício de estudo, dever de casa, esportes e essas coisas e disse pra ele mostrar pro Pai que ele iria ficar feliz. O muleque entendeu o recado, devo admitir, ele é um bom ator: disse pros pais que eu ajudo ele a fazer o dever de casa, que não o deixo fumar e nem ir pra cidade e que eu ocupo todo o tempo livre dele com música e esportes. Resultado, agora eu tenho a confiança das duas partes do jogo. O muleque confia em mim porque sou gente boa e não o obrigo a fazer nada, os pais deles confiam em mim porque eles pensam que eu estou controlando o muleque. Agora não temo mais ser demitido do dia pra noite. Tenho o tempo que de preciso. Preciso agora traçar uma estratégia de trabalho, uma espécie de plano de guerra ou algo assim. As lições devem vir aos poucos, em dose homeopáticas, vividas no dia a dia. Senhoras e senhores, mãos a obra.

Vivendo no Internato




Esse é o quarto dia em que estou aqui no internato e somando tudo eu devo ter dormido umas 15 horas apenas. Esses caras simplesmente não param!! È o tempo todo gritando, arranjando briga, chingando a mãe do outro, mexendo com as meninas; vocês acreditam que teve um filho da puta aqui que pegou um creme de rosto de uma das meninas, gozou dentro (vocês não leram errado não, é essa palavra mesmo) e depois botou no lugar? E o pior de tudo, ela usou o creme depois. Outro dia eu estava conversando com uma das meninas aqui, Helena ( que por sinal parece ser a única normal nesse lugar, o pessoal de 18 e 19 anos falam inglês muito bem aqui) e o arrombado do muleque teve a proeza de arrancar a porta do quarto; mas que filho da puta né; quando eu estava tendo minha primeira conversa descente ele me entra no quarto com a porta na mão; inacraditável; ainda bem que eu consegui consertar depois.
Teve uma vez que eles me chamaram pra tomar uma cerveja no posto de gasolina do lado do internato ( sim, eles bebem, e quem sou eu pra impedi-los) e já era umas dez da noite, hora que na teoria todos deveriam estar em seus quartos dormindo, e é claro que eu fui, afinal eu tenho que seguir o moleque em todos os lugares e mesmo se eu não fosse e trancasse a porta do lugar ele iria dar um jeito de pular a janela e ir do mesmo jeito; então eu fui. Detalhe, estava escuro e eu estava calmamente andando pela calçada quando derrepente o chão abriu-se sob os meus pés, juro pra vocês, eu simplesmente entrei até a altura do ombros dentro da porra de um buraco imenso no meio da calçada e só consegui sair porque os muleques me ajudaram (detalhe, meu pé não tocou o fundo daquela porra). Bom, tomamos duas cervejas cada um ( que por sinal eram muito boas, Tuborg e Tmishurana) e os imbecis ficaram completamente bêbados, voltamos pro internato e eles tocaram o maior putero e ficaram cuspindo na janela e dando risada que nem uns retardados.
Os muleques são bem legais pra falar a verdade, casco de dar risada com as merdas que eles fazem, mas eles são muito infantis e idiotas em alguns momentos ( como todo adolescente). Bom, acho que é isso por enquanto. Se alguém tiver alguma idéia de como controlar 10 adolescentes cheios de energia, que fumam pra caralho e que ficam bêbados com duas cervejas eu estou aberto a sugestões. Grato e La Revedere.

MIssão Impossível (parte 2)









Cá estou eu novamente pessoal. Nem sei por onde começar... se eu contar ninguém vai acreditar, mas eu não teria porque mentir então vamos lá.

Hoje faz uma semana que estou aqui e muita coisa aconteceu, muita mesmo. Bom, vamos do começo então: Estou morando junto com o moleque em uma espécie de colégio interno. O lugar é bem legal, me sinto em Hoghwarts. Há umas 25 crianças (meninos e meninas) aqui, com a idade variando dos 7 até os 19, dormem juntas, comem juntas e estudam no mesmo colégio. Todos eles ficam aqui a semana inteira e vão pra casa nos finais de semana. O internato oferece café da manhã, almoço e janta e é bem confortável. Quem “cuida” da molecada é uma mulher chamada Vacci, ela tem uns 27 anos e fala inglês muito bem, ela mora conosco no internato e sua função é não deixar esses caras botarem fogo nessa porra; e eu juro pra vocês que eles já tentaram. Essa mulher entra no quarto dela umas 21:00 da noite e se tranca lá dentro, e advinha só: os caras tocam o putero a noite toda.

O internato tem algumas regras básicas: não fumar, não beber álcool, estar aqui até ás 10:00 da noite, não freqüentar os quartos das meninas e não quebrar nada. Mas pelo visto o pessoal quebra cada uma dessas regras pelo menos umas 17 vezes por dias.

A rotina básica é: de manhã e de tarde freqüentar a escola e depois ter tempo livre pra fazer o que quiser. Por enquanto eu estou auxiliando os professores da escola com aulas de inglês e tomando conta dos alunos quando algum professor falta( só pra empedir brigas e não deixar que eles se matem) . As crianças do colégio simplesmente me amam, é só eu botar o pé dentro da escola e elas vem me comprimentar, falar de algum jogo de vídeo game, me ensinar alguns palavrões e perguntar se eu já estive na amazônia. Os professores acham interessante ter alguém estrangeiro pra praticar inglês com as crianças, eles acham uma honra alguém ter vindo do Brasil só pra aprender o método que eles usam aqui (bom, eu meio que inventei uma história falando que eu dava aulas no Brasil e vim pra cá pra aprender um pouco com eles e levar esse conhecimento pro meu país. Os jovens me acham um cara bem liberal, fui com alguns deles em um bar e ensinei os caras a fumar narguile e beber sem ficar idiota ( foi difícil mas eu consegui!!!)

Bom, creio que sou o único cara na história da AIESEC que quase foi demitido na primeira semana. Meu trabalho não é ensinar nessa escola que estou vivendo, isso aqui é só um disfarce. Meu real trabalho é acompanhar o muleque pra onde quer que ele vá. Isso mesmo, eu não posso tirar o olho dele por um segundo. Hoje aconteceu que uns moleques me chamaram pra ir andar de kart (em uma pista que tinha uma vaca no meio e você corria com máscaras de paint Ball ao invés de capacetes), o cara de quem eu estou tomando conta não estava muito afim de ir e ficou no dormitório e eu fui com os outros moleques correr de kart (alias, essa foi a primeira vez que andei de kart em toda muita vida). Acontece que a vaca da mulher, a tal de Vacci, não sei porque, falou isso pro pai dele; o cara ligou puto pra mim: falou que não era pra eu largar o moleque sozinho, que eu tinha traído a confiança dele, que eu não gostava do filho dele, que a esposa dele estava chorando e um monte de coisa. Galera, eu fiquei longe por umas duas horas, porra !! O cara tem quase dezessete anos e eu tenho que ficar grudado nele e não deixar ele fazer merda; olha só que trabalho estranho!!!

O garoto é pior do que eu pensava. Além de fumar pra caralho, ser rebelde e torrar a porra do dinheiro que o pai dele sofre pra ganhar (o pai e a mãe trabalham umas 14 horas por dia) ele ainda arranja problemas com os professores, bate nos garotos menores e humilha aqueles de quem ele não gosta muito. È o típico valentão de colégio, governa pela força e pelo carisma forte e rebelde. Hoje eu tive uma conversa com ele sobre a real razão de eu estar aqui e tudo mais. Eu disse pra ele que eu não iria ficar falando pra ele fazer isso ou não fazer aquilo, estou tentando ser um bom amigo. Ele me respeita e confia em mim, conversamos sobre tudo: esportes, mulheres, sexo e adultos que não te entendem ( essas coisas de adolescentes). Galera que acompanha a porra desse blog, estou sendo sincero com vocês, não sei quanto tempo esse intercâmbio vai durar; eu não posso amarrar o moleque na cama e mais cedo ou mais tarde ele vai fazer alguma merda e o pai dele vai ficar muito puto e vai dizer que a culpa é minha e vai me despedir. Descobri algumas coisas sobre ele que explicam esse comportamento, ele perdeu uma irmã de 21 anos, vítima de câncer (quem me disse isso foi ele próprio, os pais não me disseram nada e não há nenhuma foto da menina pela casa). Ele tem tudo o que precisa e os pais o protegem demais,(até chamaram um retartado do Brasil pra cuidar dele). Bom galera, o trabalho não é nada fácil, eu gosto das crianças daqui, mas imagina ficar 24 horas cercados de gritaria, brigas, piadas sem graças, infantilidade, conversas imbecis, brincadeiras sem graça e tudo mais... mas eu vim aqui pra isso mesmo, vamos ver quanto tempo eu agüento.



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Missão Impossível (parte 1)

Bom pessoal, Buna Seara ( boa noite).
Cá estou eu novamente tentando atualizar esse tal de blog, por incrível que pareça compartilhar seus pensamentos é muito útil pra poder organizá-los.
Hoje eu descobri qual será uma de minhas funções aqui na Romênia, talvez haja outras, mas ninguém me disse nada até agora ( podem até ter me dito mas eu não entendi nada).
Conheci o filho do casal que me contratou, por motivos óbvios eu vou ocultar o nome do moleque ( ele tem apenas 15 anos).
O cara é boa pinta, campeão estadual de kick boxing, manda bem no street dance, toca uma porção de instrumentos, pratica le parkour e , se for verdade o que ele me disse, ele já pegou metadade das garotas dessa cidade.
Ele me parece bem sociável e rebelde ( como qualquer garoto de 15 anos que encontramos por aí)
Bom, resumindo, esse garoto estuda em um colégio interno, ele só volta pra casa às sextas feiras. Basicamente o que eu tenho que fazer é morar junto com ele e manter ele longe das drogas, do cigarro e do álcool, coisa muito comum por aqui e em qualquer lugar do mundo.
Problema: o muleque é um capeta; fuma, enche a cara, e sabe todos os pontos de drogas legais e ilegais por aqui.
Vejam bem vocês que novela está se formando: eu, Allan Biffi, tenho que servir de bom exemplo pra esse cara. Eu, que encho a cara e subo de homem aranha no telhado, bebo até cair no chão, saio com o PH e com o Moraes e faço uma porção de outras coisas que não valem a pena ser citadas aqui. EU tenho que ser um bom exemplo.
Senhoras e senhores creio que uma otima história este prestes a começar.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Como tudo começou...
















Rodoviária São José
Tudo começa na rodoviária de São José dos Campos, estava eu lá esperando meu busão pra ir pra Guarulhos quando fui abordado por um mendigo, até aí sem novidade; mas advinhem só, o cara era gay! Puta que pariu né, só eu mesmo pra ser chavecado por um mendigo gay. Mas beleza, a viagem transcorreu sem problemas.

Guarulhos
Chegando no aeroporto tive que esperar cerca de 4 horas pra pegar a porra do avião, fui tomar um lanche e gastei quase 30 paus naquela porra de lugar, até sem novidades também.
Só pra vocês verem como as coisas são, quando você acha que ta fudido sempre aparece alguém mais fudido que você. Estava eu esperando o avião quando comecei a puxar conversa com um cara sentado ao meu lado. Saca só, o cara tava indo pra Suécia, dar aula de capoeira e não sabia uma palavra em inglês, depois eu achava que era maluco.

Avião
Entrei no avião, arrumei minhas coisas, sentei confortavelmente na poltrona e advinha... percebi que tinha perdido o passaporte. Faltavam 5 minutos pra aquela galinha gigante levantar voo e eu simplesmente tava sem a porra do passaporte. Sái desesperado pelo corredor, aí um senhor alemão viu meu desepero e perguntou se eu tinha perdido o passaporte... ufa... eu tinha deixado ele cair no chão, cabeçudo pra caralho né! A viagem transcorreu sem problemas. Durou cerca de 13 horas até amesterdã e mais umas 3 horas de amsterdã até Bucareste ( capital da Romênia)

Bucareste
Chegando em bucareste fui alegremente pegar minha mala e encontrar a pessoa que deveria estar me esperando no aeroporto. E como eu estava com sorte, não achei nem um nem outro. Minha mala tinha ficado em Amsterdã e não encontrei ninguém me esperando e lógico, eu não sabia falar uma única palavra em romeno. O que você faz numa situação dessas? Lógico, manda todo mundo pra puta que pariu, e foi exatamente o que eu fiz. Foi aí que chegou uma menina e perguntou se eu era brasileiro, ela pediu desculpas por estar atrasada e tudo mais. Ela sabia falar inglês muito bem e foi assim que nos comunicamos. Ela me ensinou como andar na cidade e disse que eu deveria ficar em um hotel aquela noite. Seu nome era bem estranho, Mihela, ela me deixou no hotel e foi embora. Paguei o hotel e subi pro quarto pra tomar um banho.
Foi aí que eu parei e pensei: Estou a mais de 10000 km de casa, não conheço ninguém, não sei falar porra nenhuma de romeno, to usando a mesma cueca a dois dias e pra completar perdi minha mala. O que você faz em uma situação dessas? Exatamente, cai na gargalhada e sai pra tomar uma cerveja, porque não há mais nada que você consiga fazer.
Fui num mercadinho perto do hotel e comprei pão, salame e cerveja, ia ser minha janta e advinha que cerveja eu achei na vitrine? Skol, exatamente, a nossa querida Skol, um gosto totalmente diferente, mas o nome era o mesmo. Sentei na calçada na porta do hotel e comi pão que nem um mendigo. Terminada minha refeição eu voltei pro hotel e tentei ligar pro aeroporto pra ver se minha mala tinha chegado. Enquanto eu conversa com a balconista uma garota muito atraente ( loira e olhos azuis) chegou do meu lado e pediu uma cerveja, detalhe ela falava inglês. Eu como todo bom membro do eixo já comecei a puxar papo, ela estava acompanhada com mais um amigo e mais uma menina. Nós quatro conversamos a noite inteira e eles me pagaram bebidas e cigarro. AH detalhe, quando fomos comprar cigarros era umas 11:00 da noite, bucareste é meio parecido com são paulo em termos de violência mas os ladrões não tem armas, então eu andava tranquilamente na rua, quando alguém vinha conversar em inglês eu parava e trocava idéia numa boa. Os alemães acharam que eu era algum tipo de bad boy ou algo assim, não temia as ruas e coisa e tal, coitados não conhecem são paulo.
Fui dormir cerca de 12:00 e acordei ás 4:00 da manhã, então descobri o que afinal era o tal do jetlag. Dei um passeio nas ruas e liguei pra minha mãe pra dizer que tudo estava bem, lógico que omiti o fato do passaporte e das malas.
O dia seguinte foi tranquilo, recuperei as malas no aeroporto e peguei um trem até Galati, onde tinha um escritório da AIESEC.

Galati
A viagem durou cerca de 4 horas, passamos por diversos campos e construções destruídas remanescentes da 2° guerra mundial. A romênia ficou do lado da alemanha e meio que tomou no cú por causa disso, em alguns lugares é possível ver tanques abandonados.
Cheguei em Galati e fui muito bem recebido pelo pessoal da AIESEC. Me levaram em um bar chamado Biffi's e foi aí que eu comecei a encher a cara. Depois fomos pra uma casa de jogos, e eu ganhei de um turco no pinbolinho, depois perdi pra ele na sinuca ( se o Pier e o Manso estivessem aqui eles iam ter uma lição). Continuei bebendo é claro. Depois eu fui dormir na casa de uns camaradas aqui da AIESEC, eles me perguntaram se eu gostava de vinho, e eu respondi que sim é claro e continuei bebendo até escrever aquele email maluco e cair no sono.

Tecuci
Assim que acordei me botaram em uma van e eu fui pra Tecuci, cidade na qual eu iria trabalhar.
A viagem durou cerca de uma hora e a quantidade de mulheres bem digamos... apessoadas que entrou e saiu durante a viagem foi impressionante (Rafinha, você seria preso com certeza). Quando cheguei em Tecuci o cara que me contratou foi me receber, seu nome é Pelin, ele é dono de 4 lojas que vendem praticamente tudo, celular, note book, brinquedos, livros, material escolar, conserta computador, tira xerox, faz carimbos, vende refrigerante, parece um wal mart em forma de bazar. Eu estou morando na casa dele, tem piscina, sala de musica, sala de jogos, aparelho de ginástica, internet wireless, tv a cabo.To com um quarto só meu também. Ele disse que tem um conversível na garagem pra eu poder passear por aqui e que ele vai me ensinar a dirigir. Quem cuida da casa é a sogra dele, uma velhinha muito simpática que cozinha muito bem e que conversa comigo o dia inteiro. Detalhe ela não fala inglês e eu não falo romeno, não me pergunte como mas a gente consegue se entender.
Esse Tal de Pelin não fala inglês muito bem, ele se comunica através de gestos e onomatopéias, uma comédia. Usamos um tradutor on line também, que por sinal é uma bosta mas quebra um galhão.
Sinceramente ainda não descobri direito onde vou trabalhar, pelo o que eu entendi esse cara vai construir uma escola particular aqui, mas ela só fica pronta em novembro. Enquanto isso não sei o que vou fazer, por enquanto eu acordo, como, faço academia, passeio pela cidade e a noite fico vendo o campeonato europeu e tomando cerveja com o cara.

Bom por enquanto é só, vou tentar atualizar isso aqui constantemente